terça-feira, 1 de novembro de 2011

Crónicas da Serra Leoa


Conforme prometido começam as crónicas da Serra Leoa, pela mão do Miguel Sena que vai estar por lá a trabalhar uns meses.

Siga então a primeira (e que veio com fotos giríssimas mas que, por questões técnicas - o meu computador é uma besta - só poderei publicar mais tarde.. :( sorry...)

Fica então o relato ;)

Na altura as palavras de um amigo e colega, fizeram o maior dos sentidos; hoje no meio da Selva de Freetown, Sierra Leone, subscrevo-as em ouro: “Se há coisa que não falta em países do terceiro mundo é frango”. É um facto, quando se viaja para este tipo de países e não se conhece o menu dos restaurantes, o cérebro aponta sempre para a confortável escolha da galinha como refeição.

Não vos vou mentir, a Serra Leoa é tão má como parece! De facto isto pouco ou nada tem, mas não se pode olhar para este tipo de África com olhos de europeu. Destaco a praia de Lumley com o seu extenso areal e os seus very british beach bars. Todos os dias encontro qualquer coisa neste lugar que me leva imediatamente para a minha experiência na Índia, os cheiros, a atitude das pessoas, a total desorganização do trânsito (horas intermináveis para percorrer meros quilómetros…). 

A minha chegada a Serra Leoa foi digna de um DiCaprio qualquer. Aeroporto, 5 da manhã de dia 6 de Outubro, eu, extremamente branco, suado, tudo muito escuro e confuso, dólares para aqui e ali, novo boletim de vacinas (10$), a finta ao tipo da alfândega que queria revistar tudo e mais alguma coisa (5$ ao tipo das malas), o meu nome numa folha de papel (ufffa), tempestade tropical com direito a salvas relâmpescas e o autocarro que ia partindo sem mim, melhor impossível.
Depois tive de tomar um barco, pois o aeroporto fica na margem oposta de Freetown. Mais uma viagem alucinante, desta feita numa lancha com 2 motores, cada um com 200cv, a alta velocidade, com chuva, relâmpagos, barracudas na água, pescadores à espera de serem atropelados pelo cometa náutico e as invariáveis avarias mecânicas.

Para aqui chegar fiz escala em Casablanca, Marrocos. Foram algumas horas de espera num aeroporto internacional com pessoas de todo o tipo e lojas como a Zara. Muitos já me disseram que sou um perfeito embaixador de Portugal pelos países onde passo, não porque tenha qualquer tipo de apetências diplomáticas (zero), mas sim porque encarno, fisicamente falando, o que se chama um típico português (agora sem bigode). Pois bem, a essas pessoas tenho a informar que passei a ser o típico árabe. Toda a gente comunicava comigo em árabe e ficavam espantadas quando eu devolvia o sempre obtuso, ããã?!


Quanto ao alojamento acho que não poderia estar em melhor sítio (bem talvez uma moradia com vista para o mar seria melhor). Estou numa vivenda, deslocada do centro da cidade, com piscina, guarda 24h, com decoração em arame farpado e um motorista à minha disposição.

Os meus anfitriões não poderiam ser melhores, descendentes de Cabo-Verdianos, são gente simpática como seria de esperar. Este facto obriga-me a adiar o meu treino da língua inglesa, parece impossível, mas estou em plena selva africana de Serra Leoa e falo português em casa! Espantoso é também o facto de chamaram Porto aos ocidentais, Pedro de Cintra conseguiu deixar alguma influência portuguesa por estas terras e ainda perdura nos dias de hoje.

Tenho feito algum desporto. Feito um Sócrates, vou para a praia ao final do dia fazer um jogging com o meu motorista, Ibrahim, que parece uma lebre com asas (sinceramente sinto-me um verdadeiro ministro a correr com o seu guarda-costas ao lado). Também tive a oportunidade de jogar ténis com o embaixador da Serra Leoa nalguns países africanos, juntamente com o seu corpo militar. Ganhei os três primeiros jogos ao Major, para logo de seguida perder os restantes, impossível bater um militar em termos físicos.

A vida avança em ritmo de marcha lenta por estas bandas. Muito por culpa do intenso trânsito rodoviário. Tenho uma tarefa difícil a cumprir em termos de labuta, arranjar contratos para a empresa onde trabalho, Riportico, com muitas reuniões com gente influente neste país e até agora consegui o possível.

Perdoem-me algum erro de construção frásica, mas aqui sou obrigado a falar, escrever e pensar como um anglo-saxónico e como sabem as coisas costumam ser ao contrário. Deixo-vos com algumas fotografias e um punhado de saudades.

By Miguel Sena




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