sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Crónicas da Serra Leoa, #4


Topem a foto das galinhas (ou galos...)... são os colegas de trabalho no escritório... lol...


Waka Waka (anda anda)
(para ler ao som de: Rosemary Clooney - Botch-A-Me (Ba-Ba-Baciami Piccina)).

Vou tentar recriar o momento ao máximo, mas nunca terá o impacto de o presenciar ao vivo. Começo por vos explicar que em Freetown estacionar é complicado e a polícia bloqueia os carros tal como os nossos sapos da emel. 2 com 2 e temos arrumadores. Até aqui tudo normal, o extraordinário acontece quando um deles decide correr à frente do carro a tentar desimpedir o trânsito que me atrasa a vida aos berros pelo meio da rua e ainda faz show de dance à Michael Jackson. Agora acrescentem o facto de ele ser surdo/mudo, ter um ar completamente alucinado e sem dentes (tenho vídeo). O mais surreal de tudo foi que os outros condutores respeitavam as suas “ordens” e eu cheguei mais cedo ao trabalho. No final dei-lhe uma boa gorjeta e ainda apanhei com uma chuva de perdigotos!



Esta semana estive meio doente. As dores de barriga e o velho amigo joelho esquerdo fizeram-me pensar que a Serra Leoa pode não ser tão divertida como parece. Estar doente num sítio destes faz voltar a vontade de retorno a casa… Felizmente trouxe uma farmácia comigo e ando a por uma pomada africana, contida num frasco de nívea muito suspeito, que cheira mal como tudo e supostamente foi abençoada por um mestre voodoo. Brinco, vem duma árvore qualquer, mas a árvore também estava com dores de barriga quando pariu aquela pomada.

As mulheres. A krioula da Serra Leoa é… não sei porque não conheço nenhuma :). Todas têm cabelo postiço, não gostam do natural crispim, cabelo arame farpado, típico de africanos. Não sei de onde vem o cabelo postiço, mas aqui e ali, vejo-as com comichão na cabeça e para não estragarem o penteado dão pequenas palmadas na cabeça como quem procura a última gota de ketchup do fraco.

Conheci outro português perdido nesta savana africana. Típico empresário tuga, tem negócios espalhados por todo o lado e é uma autêntica chaminé com pernas! Boa gente! Um dos negócios dele são os casinos. Recentemente inaugurou um deles perto do aeroporto e claro que marquei presença. Festa com direito a musica africana e leitão. Estava presente um líder tribal africano, que me pareceu tudo menos tribal, que supostamente tem mais poder do que o presidente! O poder é passado apenas pós morte e o ritual de enterro é africano, querendo eu dizer que depois de morto o corpo é decapitado, a cabeça embalsamada e o restante do corpo é enterrado com a cabeça embalsamada do seu antecessor; toma lá oh egípcio! 
O casino foi inaugurado no dia 11-11-2011, dia de grande superstição para os chineses, principais consumidores das mesas verdes de todo o mundo e sem excepção por estas bandas. Os leões e leoas cá do sítio sacrificam um animal sempre que se inaugura algo, os chineses pensam o contrário. Dólar para aqui, dólar para ali e a confusão acalmou! Parecia que estava num filme de 007, James Bond, mas em mau… Dois anões à porta para receber os convidados, empregados todos pinguins, mas a cheirar mal, chineses comedores de malboro, a cheirar mal, banda manhosa com sons pré-definidos no órgão, com o órgão a cheirar mal… Tudo isto ao ar livre com uma inconfundível África.

Já viajei de Okada, uma das viagens mais alucinantes da minha vida, a não repetir! Primeiro deu-me um capacete que precisava de uma mão para o segurar e não cair, depois durante a viagem reparei nas enormes unhas nos dedos polegares que atravessam as luvas vileda que usava para conduzir o foguete de duas rodas! Essas unhas tinham um importante papel de apertar os parafusos do manípulo do travão que parecia ter vida própria. Tudo isto acontecia enquanto guiava entre carros, outros como ele, pessoas e cães, sem qualquer tipo de respeito por todos. Quando cheguei a casa parecia que tinha levado uma sova, cara preta do pó e penas de galinha que apanhei pelo caminho!

Tive de prolongar o meu visto de um mês. Tarefa sempre complicada… Primeiro queriam que eu deixasse o meu passaporte com uma pessoa que conheci numa espécie de loja de peças de automóvel, de facto ele tinha um emblema da emigração na camisa, mas pensei melhor e disse que preferia fazer o processo pessoalmente. Fiquei com o número dele e no dia seguinte já estava a chateá-lo. A minha persistência foi tal que quando pedi o recibo do visto ele acabou por me devolver o dinheiro! “Vai-te embora oh português!” Primeira vez na Serra Leoa em que a coisa funcionou ao contrario e não fui eu a dar dinheiro para a coisa funcionar!
Small small!


Os táxis 

by Miguel Sena

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